Ana Loureiro

A surpresa do trabalho de João Vaz de Carvalho reside no humor com que encara a realidade da rotina diária, que recria na sua pintura, como nas histórias tradicionais provenientes de um universo paralelo.

Da sua imaginação surgem situações insólitas que nos comovem e provocam uma estranha inquietude pautada pelo humor e a sátira com que o artista enfrenta os hábitos rotineiros. As suas personagens convidam-nos a entrar num universo particular que toca o inverosímil.

Em Pelos Cabelos o humor e a diversão são o fio condutor de todo o trabalho pictórico. Através dos retratos de pessoas e de bichos, o autor provoca com vigor a cena, cria situações absurdas ou ridículas enfatizadas no tema da existência dos cabelos ou dos pelos.

Os fios capilares, não são um aliado meramente estético, são utilizados como metáfora na qual se revela ou oculta mais do que a simples aparência.

Os cabelos e pelos unem indelevelmente famílias, casais e mascotes, relacionando-os, aprisionando-os e confundindo-os através de círculos, espirais e emaranhados revelados por manchas de cor e linhas. Na pintura, estabelecem-se, entre personagens, relações que são uma fonte geradora de situações divertidas.

O autor exerce uma reflexão pessoal crítica sobre a insignificância das rotinas diárias apreendidas através de um olhar irónico que podem tornar-se a causa de muitos e cúmplices sorrisos.

Combinando a pintura, a ilustração e o desenho de humor João Vaz de Carvalho pretende transmitir uma visão bem-humorada sobre as coisas poucas do quotidiano.

Lisboa, 4 de Fevereiro de 2012

Ana Loureiro