Eu acho que os desenhos do meu pai são muito criativos e divertidos. Os desenhos do meu pai têm sempre um pouco a ver com crianças, desde os olhos esbugalhados às pernas curtas e cheias de vida. De vez em quando o meu pai faz desenhos mais tristes ( ou seja com menos cor) mas sempre com algo divertido.
Muitos dos quadros não fazem muito sentido mas o divertido é imaginar o que eles nos podem contar. Ele muda muitas vezes de estilo e é por isso que eu não me canso dos seus desenhos.
Maria Teresa (11 anos)
Abril de 2009
A Teresa diverte-se com os meus quadros. Mas eu acho que a Teresa se diverte muito mais quando brinca horas a fio no tapete da sala, com aqueles bonecos de plástico que representam animais da quinta e da selva. Ela faz grandes encenações. E é engraçado ver como as figuras têm diferentes escalas sem que isso diminua a verdade da história que está a viver. O cão pode ser muito maior do que o burro ou então, aquela girafa do mesmo tamanho do leão. Para ela é absolutamente irrelevante que a realidade não seja assim. Isso não tem a menor importância para o caso. Ela diverte-se mesmo.
Algo de semelhante se passa comigo quando desenho e pinto. Também eu me divirto. E também neste caso, é a minha memória que contém coisas que julgava terem uma importância muito diferente, mas que afinal ocupam o mesmo espaço. Após tantos anos, não percebo muito bem porque é que aquele velho relógio ocupa tanto espaço na minha cabeça como a chegada do homem à Lua. Não sei porquê, mas no fundo, também não me interessa muito. A verdade é que registei as coisas assim. E é com elas assim que gosto de trabalhar. Não dou muito crédito à sua suposta importância. Há uma espécie de socialismo nas gavetas das minhas memórias. Todas elas são igualmente válidas e não se dão ares de importantes. É com essa matéria-prima, tal como a Teresa com os seus animais, que gosto de brincar nos meus quadros.
João Vaz de Carvalho
Maio de 2009